O profissional de Vilamoura dedicou o título à equipa técnica que trouxe o seu melhor jogo ao de cima e explicou a Record como deu a volta a época
Vítor Lopes é um dos cinco portugueses que a partir desta quinta-feira vai disputar o Kaskáda Golf Challenge, um torneio do Challenge Tour, a segunda divisão europeia, de 260 mil euros em prémios monetários.
Para além de Vítor Lopes, estarão no no Kaskáda Golf Resort, na Chéquia, Pedro Figueiredo, Tomás Melo Gouveia, Pedro Lencart e João Girão.
Vítor Lopes só pode estar extremamente motivado, depois de ter alcançado há poucos dias um feito que é cada vez menos frequente – o de ganhar dois torneios consecutivos no circuito profissional português.
Em 2022 celebram-se exatamente 20 anos de um dos recordes do golfe nacional. Em 2002 António Sobrinho participou em dez provas do então Organize Tour, venceu nove delas, oito consecutivas. Na altura, “Sobras” mereceu uma menção honrosa numa última página do jornal Record.
Desde que António Sobrinho conquistou em 2008 o seu 11.º e último título de campeão nacional (um recorde no nosso país), nunca mais um jogador logrou um domínio tão avassalador no circuito profissional português. Também é verdade que o nível médio dos profissionais elevou-se e no topo a qualidade também subiu.
É, por isso, que é tão relevante o facto de Vítor Lopes ter vencido os dois últimos eventos deste circuito. Em duas semanas seguidas, triunfou no 3.º Torneio do Circuito da Federação Portuguesa de Golfe no Boavista Golf & Spa em Lagos, e agora repetiu a dose no Amarante Golf Open.
Record já noticiou há três dias esta grande vitória de Vítor Lopes, com 184 pancadas, 20 abaixo do Par, após voltas de 61, 63 e 60, mas há várias façanhas que não foram salientadas e importava também falar com o próprio jogador.
Boavista e Amarante são dois campos muito distintos, exigem um tipo de golfe quase oposto, mostrando que Vítor Lopes está com um jogo mais completo.
Para mais, obteve excelentes resultados em ambos, com 12 abaixo do Par em Lagos (um torneio de 7.500 euros em prémios monetários) e, sobretudo, 20 abaixo do Par em Amarante (um evento de 15 mil euros).
De uma assentada ficou com as melhores marcas do campo amarantino quer de uma volta (60 pancadas no último dia, -8), quer de um torneio. Esta foi a nona vez que um torneio do circuito profissional português passou por Amarante e o anterior melhor resultado de um campeão foram as 11 pancadas abaixo do Par de António Sobrinho, após três voltas, no Mota Engil PGA Classic de 2006.
“Não há muito para dizer, depois de duas vitórias e por margens grandes para o 2.º lugar. Sinto-me bastante bem”, disse o português de 25 anos ao Gabinete de Imprensa da FPG.
É a segunda vez na sua carreira que soma dois títulos seguidos num mesmo circuito. Em fevereiro de 2020 tinha conquistado dois troféus consecutivos em provas de 10 mil euros, no então Portugal Pro Golf Tour, um circuito internacional.
Mas no circuito profissional português ninguém conseguia dois títulos seguidos desde que Ricardo Melo Gouveia triunfou em agosto de 2020 no PGA Summer Pro-Am e logo depois no Campeonato Nacional Absoluto Audi. Aliás, nos últimos tempos, o circuito profissional português, no setor masculino, tem sido extremamente dividido, uma prova da sua competitividade.
Em 2021, juntando todas as competições para profissionais lusos, houve nove torneios e só dois jogadores lograram arrebatar dois títulos: Pedro Lencart no 3.º Torneio do Circuito FPG e no Campeonato Nacional Absoluto Hyundai, e Tiago Cruz no 1.º Open Xiragolfe e no 39.º Open Pro-Am da Ilha Terceira, mas não consecutivos. De resto, registaram-se vitórias de Pedro Figueiredo, Tomás Silva, Miguel Gaspar, Hugo Santos e Tomás Bessa.
Já este ano, os primeiros torneios do Circuito FPG tinham sido ganhos por Sofia Barroso (um momento histórico, uma amadora vencer uma prova mista de profissionais) e Pedro Lencart.
O mais curioso é que estas duas vitórias de rajada surgiram um pouco em contraciclo ao que se passava na época de Vítor Lopes. Como Record explicou há uma semana, sendo membro do Alps Tour, jogou nessa terceira divisão do golfe europeu, competiu em nove torneios entre fevereiro e maio e só conseguira um top-15, falhando cinco cuts.
Tudo isso está agora para trás das costas e o profissional da TaylorMade já só pensa na segunda metade da época. Record conversou com ele dois dias após o êxito em Amarante e o algarvio fez questão de elogiar a sua equipa técnica, ao mesmo tempo que anunciou que vai apostar mais na segunda divisão europeia, o Challenge Tour.
Record – Em Amarante houve dias em que os termómetros no campo pareciam andar bem acima dos 35 graus Celsius. Sendo um campo de montanha, julgas que o fator físico foi determinante na tua vitória, dado ser bastante complicado jogar três dias seguidas naquelas condições?
Vítor Lopes – Amarante apresentou bem as suas defesas, com os buracos a subir, os greens difíceis. E este ano o calor desafiou-nos física e psicologicamente. Não foi fácil, mas senti que estava bem preparado. Aliás, fisicamente sempre fui um jogador bem preparado. Saí deste torneio satisfeito.
R – Não foi uma surpresa ver-te ganhar no Boavista Golf & Spa, mas confesso que em Amarante pensei que poderias ter mais dificuldades. São campos muito diferentes.
VL – Amarante testa-nos com várias habilidades. Para mim foi sempre um campo muito desafiante, porque testa o meu ponto menos bom, que é o jogo curto, o chip e o putt. Mas depois de seis meses de bom trabalho com a minha equipa técnica, o Joaquim Sequeira e o António Rosado, senti-me bastante confortável e desta vez levei a melhor ao campo de Amarante. Ainda quis fechar com um 59, mas ainda não foi desta.
R – Li no comunicado da FPG que vais virar-te agora mais para o Challenge Tour e menos para o Alps Tour, onde jogaste na primeira metade da época. Podes explicar essa decisão?
VL – Já que estou numa boa fase, vou tentar a minha sorte no Challenge Tour (segunda divisão europeia), com os convites da FPG. A Categoria que tenho no Challenge Tour talvez dê para entrar em algum torneio. O meu foco será estar o mais preparado possível para a Escola de Qualificação do DP World Tour (primeira divisão europeia). Quanto aos torneios do Alps Tour (uma das terceiras divisões europeias), irei jogar aqueles que não coincidirem com os torneios do Challenge Tour, para manter a minha competitividade ao mais alto nível.
R – Referiste a importância do trabalho com a tua equipa técnica. O Joaquim Sequeira é um treinador de culto em Portugal e tem sido o teu treinador de sempre, mas achei interessante referires o António Rosado, um antigo campeão nacional (2009) que andou pelo Sunshine Tour (primeira divisão sul-africana). Podes contar como surgiu essa oportunidade de trabalhares com o Tó?
VL – O Sequeira faz parte do meu percurso no golfe. Quando comecei a jogar golfe ele esteve presente. Tem sido uma presença desde o primeiro dia e espero que esteja comigo por muito mais tempo. Quanto ao Tó, foi no Portugal Masters. Ele estava a ver-me fora das cordas como qualquer outro espectador e eu disse-lhe que, sendo ele um dos meus amigos, que entrasse para o driving range (campo de treino). Ele fez um treino de chip comigo e isso ajudou-me para esse torneio. A partir daí acreditei que ele poderia ser uma mais valia para mim e para o meu golfe. O Tó entrou na minha equipa em dezembro. Fez uma tentativa como profissional de golfe na África do Sul e depois voltou antes da paragem dos circuitos por causa da COVID19. É uma pessoa que acredita e confia em mim, sabe muito de golfe. Disse-lhe que queria-o na minha equipa para a parte do jogo curto e pitching e ele aceitou. Estou muito feliz e estes títulos são para eles, para os meus treinadores. O golfe tem altos e baixos, testa-nos de todos as maneiras. O Sequeira, o Tó, o Pedro Lima Pinto (agente), os meus preparadores físicos, a família, os amigos, os patrocinadores têm estado lá, nos momentos em que mais preciso. Por isso, nos bons momentos, é com eles que quero festejar. O mérito é muito deles.
Por Hugo Ribeiro